A população da ilha do Governador, como não poderia deixar de ser, com o passar do tempo, passou a conviver com vários tipos pitorescos: Bracaiá, Sombra, Cocoroca, o cego Abadia, Cucuruxá, a Baiana e, em tempos mais recentes, a Xuxa e o Sim. Este último, munido de tarugos de gesso, desenhava anjos e demônios pelas calçadas, pronunciando discursos intermináveis, interrompido periodicamente pelos gritos de “Sim”, o que acabou por lhe valer o apelido. Nosso personagem chegou a ser mencionado no livro de Carlos Eduardo Novaes “Anônimos Famosos 2002”, que trata dos tipos excêntricos de diversos bairros e, no caso da Ilha, nosso inesquecível Sim!
Seus desenhos, feitos com pedaços de gesso, eram traçados com uma velocidade impressionante, usando muitas das vezes as duas mãos ao mesmo tempo, como que espelhadas. Infelizmente não restaram registros de sua obra.
Diziam ser chamado de Eduardo e, certamente, sofria com problemas emocionais. Segundo um antigo morador, “as coisas que ele dizia pareciam absurdas, mas não eram. O pensamento dele era construtivo e contestador. Aquilo me intrigava… não era um maluco e sim alguém que passou por uma dor profunda”. Expressava seus sentimentos e conflitos através de desenhos que, quase sempre, envolviam anjos e demônios.
Porém, apesar de seu aspecto e do tom de voz elevado, quando pronunciava o “sim”, lembrando algum personagem de peça teatral, costumava ser gentil e amigável com aqueles que se aproximavam para conversar. Sua arte assim foi relatada por João Carlos Cardoso: “Uma vez, lá por 1987/1990, eu o vi desenhando um demônio nas confluências das ruas Ituá com Aberema (em frente aonde é hoje a casa de festas), no jardim Guanabara. Certamente, sabia capoeira. Com um pedaço de gesso nas mãos, apoiou-se com a mão que não segurava a pedra e deu um giro sobre si mesmo com as pernas para o ar, riscando o círculo que viria a ser a cabeça do desenho. Fez uma circunferência quase completa. Um verdadeiro compasso humano! O gesso ele conseguia lá nos Tijolinhos (anos mais tarde soube disso por um então colega de trabalho que morava no local), porque as paredes internas dos apartamentos eram feitas com placas deste material, e sempre havia alguém fazendo obra e jogando placas de gesso quebradas nas caçambas de entulho”.
Seus desenhos envolviam personagens com cabeças que lembravam um lobo, seguidas por palavras escritas com letras que lembravam o gótico, porém cursivas. Verdadeiras obras de arte. Outras vezes proferia frases em outros idiomas, como o espanhol e o latim.
Quanto ao seu destino, dizem ter se recuperado e recebido acolhimento por uma família, tendo uma vida normal.